Por dr. Jairo Monson | Em novembro de 2023 foi publicado um artigo sólido e consistente, com metodologia científica correta, sobre os efeitos do consumo diário, moderado e a longo prazo de vinho tinto na saúde humana. Este trabalho representa a evidência científica mais robusta disponível atualmente sobre o tema, revisando de forma sistemática todo o conhecimento científico acumulado até o momento.
Os efeitos do vinho na saúde são atribuídos principalmente aos polifenóis, ao álcool e à interação sinérgica entre essas duas substâncias. Cerca de 90 a 95% dos polifenóis presentes nos vinhos são provenientes das sementes e cascas das uvas. Por isso, os vinhos tintos, que durante a vinificação ficam em contato prolongado com as cascas e sementes das uvas, possuem de 10 a 20 vezes mais polifenóis do que os vinhos brancos. Isso se traduz em um maior impacto na saúde, uma vez que os vinhos tintos são potentes antioxidantes, diminuem a agregação plaquetária, melhoram a função endotelial e reduzem as inflamações. Isso resulta em proteção cardiovascular, efeitos neuroprotetores e quimiopreventivos.
A revisão sistemática publicada pelo Dr. Jeffrey S. Wojtowicz incorpora todas as publicações científicas disponíveis até junho de 2023 sobre os efeitos do consumo diário (ou quase isso) e moderado de vinho tinto na saúde humana. Foram analisadas 179 publicações e 74 estudos atenderam a alguns critérios de inclusão e exclusão nessa revisão.
Foram incluídos apenas estudos com (1) participantes adultos, (2) consumo de vinho tinto, (3) consumo diário ou próximo a isso, (4) volume máximo de 28 gramas de álcool por dia para homens e 14 gramas de álcool por dia para mulheres e que (5) avaliavam desfechos na saúde a longo prazo (mais de 2 anos).
Foram excluídos todos os estudos: (1) não clínicos, (2) em animais, (3) em que os desfechos eram marcadores ou biomarcadores sem desfecho de saúde, (4) de curta duração (menos que 2 anos), (5) tamanho pequeno (com menos de 25 indivíduos), (6) que tinham como foco o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, (7) ausência de informações sobre o vinho e (8) artigos de revisão, metanálise, editorial ou comentário.
Dos 74 estudos que preencheram os critérios de inclusão para a análise, 27 (36%) avaliaram desfechos de câncer, 14 (19%) avaliaram desfechos cardiovasculares, 10 (14%) avaliaram mortalidade, 7 (9%) avaliaram ganho de peso, 5 (7%) avaliaram demência e os 11 restantes avaliaram uma variedade de desfechos de saúde.
Os resultados podem ser resumidos da seguinte forma:
1. Não foram encontradas evidências de associação entre o consumo moderado de vinho tinto e desfechos negativos (danos) para a saúde.
2. Foi observado um efeito positivo (protetor) sobre a saúde em todos os 10 estudos que avaliaram a mortalidade, nos cinco que avaliaram a demência, e em outros que avaliaram alguns tipos de câncer (por exemplo, linfoma não-Hodgkin) e condições cardiovasculares (por exemplo, síndrome metabólica).
3. Para outros desfechos de saúde avaliados, a associação foi neutra, ou seja, nem prejudicial nem benéfica.
4. Não foi encontrado argumento científico consistente para desaconselhar o consumo moderado de vinho tinto por quem não tenha contraindicação ao seu consumo.
Os potenciais benefícios psicossociais positivos do consumo de vinho de maneira moderada e responsável por quem assim possa fazer, não foram analisados nessa revisão sistemática, mas não devem ser ignorados.
A intenção desse artigo é apenas trazer para o leitor a evidência científica mais robusta que a ciência médica dispõem hoje sobre esse assunto para que tenha a informação certa. É inadequado formar opinião baseada em estudos com baixo nível de evidência científica, malconduzidos ou com interpretações incorretas, que consideram pesquisas isoladas ou que agregam dados de outras bebidas alcoólicas. Considerar todas as bebidas alcoólicas como tendo os mesmos efeitos na saúde é um erro e tema para outro artigo.
O objetivo deste artigo não é, de forma alguma, estimular o consumo de vinho tinto como meio de obter benefícios para a saúde. Tais benefícios alcançamos através de um estilo de vida saudável. O vinho é uma bebida alcoólica que, quando consumida com moderação, pode realçar uma refeição, enriquecer uma conversa, tornar um encontro mais agradável, e até mesmo transformar um momento comum em algo especial. No entanto, é inegável, com base no conhecimento atual, que o consumo responsável de vinho, por aqueles que não têm contraindicações, pode fazer parte de um estilo de vida saudável.
(Fonte: dr. Jairo Monson)
(Legenda: taça de vinho tinto | Crédito: não atribuído)